Um monte de gente me perguntou se eu não ia escrever nada
sobre o meu trabalho, sobre o laboratório, afinal, eu vim aqui pra isso... Aqui
vai então, um pouquinho da minha rotina no laboratório.
Para quem não me conhece, meu doutorado é na área de Química
Bioinorgânica e vim aqui fazer alguns testes que não estão disponíveis no meu
laboratório no Brasil (essa é, inclusive, umas das condições para a bolsa).
Estou na Université Blaise Pascal, em Clermont-Ferrand. Na chegada, uma
surpresa, o laboratório é muito mais de orgânica do que de inorgânica. Além
disso, ninguém mais realiza estes testes que viemos fazer, portanto não tem
nenhum aluno para nos ajudar, apenas o professor.
Falando em professor, ele nos acolheu muito bem. Buscou a
gente no aeroporto, levou no alojamento, foi nosso fiador no aluguel e levou a
gente no banco para tomar as primeiras providências para abrir a conta. Mas...
no nosso primeiro dia de laboratório ele simplesmente nos deu um espaço na
bancada e disse: “Podem começar, qualquer coisa que precisarem é só me chamar.”
Na hora, dei até uma risada, pensando que era brincadeira. Mas não. Era sério.
Ele saiu e deixou a gente com aquelas caras de patetas. Aí tivemos que ir atrás
dele e explicar que a gente nunca tinha feito, se ele podia dar uma
orientação...
Eis que começamos a fazer os testes e nada... tudo dando
errado. A gente não conseguia explicar o que estava acontecendo e tampouco
ele... Trabalha, trabalha, trabalha e nada...! E aí a gente vai ficando sem
graça de importunar o cara toda hora. E ele, por sua vez, é claro, vai ficando
um pouco menos paciente. Sem contar a dificuldade da comunicação. Não tem
jeito, muita informação se perde no caminho por causa da língua.
Meu marido começou a fazer os testes dele e o resultado foi
melhor. Mesmo assim a gente tem ficar atrás do professor para desenvolver os
próximos passos porque, claro, ele não tem o tempo todo disponível para ficar
fazendo as nossas coisas. Quanto aos meus testes, resolvi seguir por outro
caminho, ou teria que parar por aqui e apenas ficar acompanhando o que meu
marido fizer para aprender.
Falando um pouquinho do laboratório em si. Estamos em um
grupo pequeno, de 3 professores, 2 alunos de doutorado e 1 de pós-doc. Apesar
do grupo ser pequeno, existe muita interação entre os vários grupos e todo
mundo se conhece e usa muitos equipamentos e reagentes em comum. Uma coisa que
me surpreendeu é que o lab é um pouco desorganizado, mas em termos de estrutura
é melhor que o nosso no Brasil.
No primeiro dia recebemos um caderno todo chique de capa
dura para fazer o caderno de laboratório (onde anotamos todas as experiências
que fazemos e seus resultados). Em francês, claro. Ele deve ser devolvido,
devidamente preenchido, dia a dia, quando a gente for embora.
Aqui eles chegam no lab mais ou menos às 8:30 e ficam, pelo
menos até as 18 horas. Todo mundo almoça na universidade mesmo, e isso leva uns
45 minutos. A hora sagrada de ir almoçar é 11:30, o que quer dizer que 12:15
estamos de volta ao batente. São muitas horas de trabalho seguidas, mas eles
(não nós, porque não temos intimidade pra isso) param algumas vezes para fumar
e tomar café.
Não se emenda nos feriados, no entanto eles têm (profs e
alunos) 40 dias úteis de férias por ano, dos quais são descontados os “emendos”
de quem quiser emendar. Há férias obrigatórias durante 2 ou 3 semanas entre na
época de Natal e Ano Novo e também mais umas 3 semanas em agosto. O lab fecha e
ninguém pode trabalhar.
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