Olhando as fotos das nossas viagens, dos queijos que a gente
come, das cervejas e dos vinhos que a gente bebe, pode parecer que a vida aqui
é um mar de rosas, mas a verdade é que ela (como diz a querida Dona Lucília, vó
de uma amiga) é como tempo: um dia está boa, no outro está ruim...
Essa é realmente uma experiência incrível, que nos permite
conhecer mil coisas sobre as pessoas, os lugares, os costumes e muito também
sobre nós mesmos. Outro dia mesmo, eu voltava de uma viagem de trem e me
deparei com uma menininha linda, quase um bebê, com umas chuquinhas que faziam
ela se parecer com aquela menina do Monstros S.A. Ela tinha olhos grandes e
atentos. Olhava tudo que via ao seu redor. Capturava o máximo de informações possível.
E, por alguns instantes, me achei tão parecida com ela... Olhando também para
todos os lados, descobrindo cada imagem, cada pessoa, cada hábito, cada som,
cada cheiro, cada gosto... E tentando registrar no meu cérebro (não mais tão
vazio quanto o dela) o máximo possível. Ao mesmo tempo, ingênua como ela...
ouvindo um mundo de informações sem conseguir decifrá-las, no meu restrito
mundo de poucas palavras.
Uma experiência incrível sim, mas nem por isso fácil. A
chegada é um baque. Por mais que você ache que estudou bastante a língua, a
realidade é bem diferente. E bem mais cruel. No primeiro dia dá vontade de
pegar o avião de volta. No segundo também. Qualquer coisa é difícil. Acordar e
pensar que vai começar tudo de novo em francês é difícil. E aí os dias vão
passando, e isso vai diminuindo um pouco. Os blocos de palavras escutados no
início vão se transformando em bloquinhos menores... e dá até pra saber mais ou
menos de qual assunto estão falando, mesmo que seja impossível acompanhar uma
conversa deles. Mesmo que não tenha como pedir pra voltar a fita e ouvir tudo
de novo. Além disso, no início não se sabe muito bem pra onde ir, como agir, o
que fazer... comer é difícil, falar é difícil, até comprar produto de limpeza é
difícil!
Mas é principalmente na língua que o bicho pega... é difícil
não se sentir excluído quando todos falam e você apenas olha... e olha que
tenho meu marido, ou seja, tenho com quem conversar o tempo todo... Mas mesmo
assim tem dias que é dureza. O pessoal do lab é bem legal e queria muito
interagir mais com eles, mas tem horas que simplesmente você se cansa de tanto
esforço... cansa de ficar fazendo papel de bobo e falando tudo errado... cansa
de fingir que está entendendo quando, na verdade, não está. E aí quando você
trabalha 9 horas todos os dias e nada dá certo... aí é que cansa mesmo!
Mas tem dias que são ótimos. Basta conseguir conversar um
pouquinho com eles, basta descobrir algo que eles pensam, basta interagir um
pouco mais, que tudo fica bem melhor. E a gente até esquece que tantas vezes se
sente como um peixe fora d’água.
Mas no dia seguinte, bate a saudade... das pessoas, da
sensação de “estar em casa” e il fait mauvais (como eles dizem que o tempo tá
ruim)...
Por isso eu repito, incrível sim, simples e
fácil, de jeito nenhum.
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