domingo, 22 de abril de 2012

Um pouquinho da rotina do lab


Um monte de gente me perguntou se eu não ia escrever nada sobre o meu trabalho, sobre o laboratório, afinal, eu vim aqui pra isso... Aqui vai então, um pouquinho da minha rotina no laboratório.

Para quem não me conhece, meu doutorado é na área de Química Bioinorgânica e vim aqui fazer alguns testes que não estão disponíveis no meu laboratório no Brasil (essa é, inclusive, umas das condições para a bolsa). Estou na Université Blaise Pascal, em Clermont-Ferrand. Na chegada, uma surpresa, o laboratório é muito mais de orgânica do que de inorgânica. Além disso, ninguém mais realiza estes testes que viemos fazer, portanto não tem nenhum aluno para nos ajudar, apenas o professor.

Falando em professor, ele nos acolheu muito bem. Buscou a gente no aeroporto, levou no alojamento, foi nosso fiador no aluguel e levou a gente no banco para tomar as primeiras providências para abrir a conta. Mas... no nosso primeiro dia de laboratório ele simplesmente nos deu um espaço na bancada e disse: “Podem começar, qualquer coisa que precisarem é só me chamar.” Na hora, dei até uma risada, pensando que era brincadeira. Mas não. Era sério. Ele saiu e deixou a gente com aquelas caras de patetas. Aí tivemos que ir atrás dele e explicar que a gente nunca tinha feito, se ele podia dar uma orientação...
Eis que começamos a fazer os testes e nada... tudo dando errado. A gente não conseguia explicar o que estava acontecendo e tampouco ele... Trabalha, trabalha, trabalha e nada...! E aí a gente vai ficando sem graça de importunar o cara toda hora. E ele, por sua vez, é claro, vai ficando um pouco menos paciente. Sem contar a dificuldade da comunicação. Não tem jeito, muita informação se perde no caminho por causa da língua.

Meu marido começou a fazer os testes dele e o resultado foi melhor. Mesmo assim a gente tem ficar atrás do professor para desenvolver os próximos passos porque, claro, ele não tem o tempo todo disponível para ficar fazendo as nossas coisas. Quanto aos meus testes, resolvi seguir por outro caminho, ou teria que parar por aqui e apenas ficar acompanhando o que meu marido fizer para aprender.

Falando um pouquinho do laboratório em si. Estamos em um grupo pequeno, de 3 professores, 2 alunos de doutorado e 1 de pós-doc. Apesar do grupo ser pequeno, existe muita interação entre os vários grupos e todo mundo se conhece e usa muitos equipamentos e reagentes em comum. Uma coisa que me surpreendeu é que o lab é um pouco desorganizado, mas em termos de estrutura é melhor que o nosso no Brasil.

No primeiro dia recebemos um caderno todo chique de capa dura para fazer o caderno de laboratório (onde anotamos todas as experiências que fazemos e seus resultados). Em francês, claro. Ele deve ser devolvido, devidamente preenchido, dia a dia, quando a gente for embora.

Aqui eles chegam no lab mais ou menos às 8:30 e ficam, pelo menos até as 18 horas. Todo mundo almoça na universidade mesmo, e isso leva uns 45 minutos. A hora sagrada de ir almoçar é 11:30, o que quer dizer que 12:15 estamos de volta ao batente. São muitas horas de trabalho seguidas, mas eles (não nós, porque não temos intimidade pra isso) param algumas vezes para fumar e tomar café.

Não se emenda nos feriados, no entanto eles têm (profs e alunos) 40 dias úteis de férias por ano, dos quais são descontados os “emendos” de quem quiser emendar. Há férias obrigatórias durante 2 ou 3 semanas entre na época de Natal e Ano Novo e também mais umas 3 semanas em agosto. O lab fecha e ninguém pode trabalhar.

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